"Raios de Luz"


quinta-feira, 26 de junho de 2014

Sínodo dos Bispos sobre a Família - alguns pontos a considerar



Foi hoje apresentado no Vaticano o documento sobre o qual os Bispos vão trabalhar no próximo Sínodo, de 5 a 19 de Outubro deste ano. Do extenso documento, destacamos alguns pontos mais pertinentes, que nasceram dos inquéritos feitos às Conferências Episcopais do mundo inteiro.

Conhecimento dos documentos do Magistério:

O conhecimento dos documentos conciliares e pós-conciliares do Magistério sobre a família, por parte do povo de Deus, parece ser geralmente escasso. Sem dúvida, há um certo conhecimento deles por parte dos especialistas em âmbito teológico. 

Contudo, estes textos não parecem permear profundamente a mentalidade dos fiéis. Há também respostas que reconhecem com muita franqueza o facto de que tais documentos, entre os fiéis, não são minimamente conhecidos. Nalgumas respostas, é feito notar que por vezes os documentos são considerados, sobretudo pelos leigos, que não têm preparação prévia, como realidades um pouco «exclusivas». Sente-se uma certa dificuldade em pegar nestes textos e estudá-los.

A necessidade de sacerdotes e ministros preparados:

Nalgumas respostas, encontra-se também uma certa insatisfação em relação a alguns sacerdotes que parecem indiferentes em relação a alguns ensinamentos morais. O seu desacordo com a doutrina da Igreja gera confusão entre o povo de Deus. Por isso, é pedido que os sacerdotes sejam mais preparados e responsáveis ao explicar a Palavra de Deus e ao apresentar os documentos da Igreja relativos ao matrimónio e à família.

Alguns motivos da dificuldade na recepção dos ensinamentos da Igreja:

Algumas Conferências Episcopais observam que o motivo da resistência aos ensinamentos da Igreja sobre a moral familiar é a falta de uma autêntica experiência cristã, de um encontro pessoal e comunitário com Cristo, que não pode ser substituído por apresentação alguma, mesmo se correcta, de uma doutrina. Neste contexto, lamenta-se a insuficiência de uma pastoral que se preocupa unicamente em administrar os sacramentos. 

Além disso, a maioria das respostas frisa o crescente contraste entre os valores propostos pela Igreja sobre matrimónio e família e a situação social e cultural diversificada em todo o planeta: as novas tecnologias difusivas e invasivas; a influência dos mass media; a cultura hedonista; o relativismo; o materialismo; o individualismo; o crescente secularismo; a prevalência de concepções que levaram a uma excessiva liberalização dos costumes em sentido egoísta; a fragilidade das relações interpessoais; uma cultura que rejeita escolhas definitivas, condicionada pela precariedade, pelo provisório, típica de uma «sociedade líquida», do «usa e deita fora», do «tudo e já»; valores apoiados pela chamada «cultura do descarte» e do «provisório», como recorda frequentemente o Papa Francisco.

Promover um melhor conhecimento do Magistério:

A catequese sobre matrimónio e família não se deva limitar hoje apenas à preparação do casal para o matrimónio; é necessária uma dinâmica de acompanhamento de carácter experiencial que, através de testemunhas, mostre a beleza de quanto nos transmitem sobre a família o Evangelho e os documentos do Magistério da Igreja. Muito antes que se apresentem para o matrimónio, os jovens precisam de ser ajudados a conhecer quanto ensina a Igreja e por que o ensina.


Problemática da lei natural hoje:

A distinção dos sexos possui um fundamento natural no âmbito da existência humana. Por conseguinte, existe uma força da tradição, da cultura e da intuição, o desejo de manter a união entre o homem e a mulher. Portanto, a lei natural é universalmente aceite «de facto» pelos fiéis, mesmo sem a necessidade de ser teoricamente justificada. 

Já que a não consideração do conceito de lei natural tende a dissolver o vínculo entre amor, sexualidade e fertilidade, entendidos como essência do matrimónio, muitos aspectos da moral sexual da Igreja hoje não são compreendidos. Radica-se sobre isto uma certa crítica à lei natural também da parte de alguns teólogos.


Sobre o acesso aos Sacramentos:

Frequentemente não se entende a relação intrínseca entre matrimónio, Eucaristia e penitência; portanto, é muito difícil compreender por que motivo a Igreja não admite à comunhão aqueles que se encontram numa condição irregular. O sofrimento causado pela não recepção dos sacramentos está claramente presente nos batizados que estão conscientes da própria situação. Muitos sentem-se frustrados e marginalizados. A misericórdia de Deus não provê a uma cobertura temporária do nosso mal, mas abre radicalmente a vida à reconciliação, conferindo-lhe renovada confiança e serenidade, mediante uma verdadeira renovação.

A abertura à vida e a prática sacramental:


Algumas respostas afirmam que hoje «o exame de consciência» dos casais cristãos está concentrado na relação entre os cônjuges (infidelidade, falta de amor), descuidando bastante os aspectos da abertura à vida, em confirmação da debilidade com que muitas vezes se entende a relação entre o dom de si ao outro na fidelidade e a geração da vida. As respostas põem em evidência também que é muito diversificada a atitude pastoral dos sacerdotes em referência a este tema: entre quantos assumem uma posição de compreensão e de acompanhamento; e quantos, ao contrário, se mostram muito intransigentes ou então laxistas. Confirma-se assim a necessidade de rever a formação dos presbíteros sobre estes aspectos da pastoral. 

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