«No domingo de Páscoa, os cristãos festejam a ressurreição de
Cristo que, segundo os Evangelhos, ocorreu ao terceiro dia depois da sua
crucifixão e morte. Este mistério da fé, que é o fundamento do Cristianismo, é
também um facto histórico que a ciência não desconhece.
Muito embora ninguém tenha assistido à ressurreição, mais de
quinhentas pessoas viram Jesus de Nazaré depois de ter ressuscitado, que lhes
apareceu em várias circunstâncias, momentos e lugares. O testemunho, unânime,
de uma tão grande quantidade de pessoas dá ao acontecimento a consistência de
um facto cientificamente comprovado. Muitas outras realidades históricas não
têm, a seu favor, tantas testemunhas contemporâneas.
Mas há também uma prova documental de irrefutável valor
científico: o sudário de Turim, que constitui, em terminologia forense, o
“corpo do delito” verificado em Jerusalém, aproximadamente nos anos trinta da
nossa era. Os peritos em medicina legal são unânimes no seu veredicto: esse
pano é, com efeito, uma mortalha que envolveu o cadáver de um homem novo, que
foi crucificado depois de ter sido flagelado, coroado com espinhos e ferido, já
morto, por uma lança que o perfurou entre a quinta e a sexta costela.
Os exames
merceológico e palinológico confirmam que o tecido, típico da Palestina do
século I, tem aproximadamente dois mil anos e esteve em contacto com um corpo
morto, entre 36 e 40 horas, precisamente o tempo decorrido, segundo a Bíblia,
entre a morte de Jesus (pelas 15h de sexta-feira) e a sua ressurreição
(madrugada de domingo).
É verdade que uma tentativa de datação do sudário pelo
método do carbono 14 levou a crer que o mesmo seria posterior a 1260 e anterior
a 1390, mas a comunidade científica acolheu com fundado cepticismo o resultado
de uma investigação que, entre várias irregularidades, não de todo inocentes,
não teve em conta que o tecido foi fervido em azeite em 1503, sofreu um
incêndio em 1532 e, ainda, que foi muitas vezes exposto ao ar livre.
Estas
circunstâncias interferiram no resultado desse exame e, por isso, exigiam que
se tivesse feito a necessária subtracção dos isótopos recentes, o que não
aconteceu.
Mas, se fosse certo que o sudário era de meados dos séculos
XII ou XIII, como explicar que, nessa altura, se usasse uma mortalha tecida
mais de mil anos antes?! Que razão se poderia apontar para o facto do corpo
nele amortalhado ter sido previamente flagelado, “ao modo romano”, e
crucificado, se tais procedimentos há mais de mil anos que já não se usavam?!
É chamativo que, no sudário, não conste o mínimo sinal de
corrupção, ao contrário do que acontece em qualquer outra mortalha em contacto
com um cadáver, bem como o facto de não se conhecer nenhuma técnica, antiga ou
actual, que permita aquele tipo de impressão. É também certo que o corpo morto
não poderia ter sido retirado por mãos humanas, em cujo caso a respectiva
imagem não poderia ter a nitidez e precisão que apresenta.
Ninguém, até à data, conseguiu obter uma imagem semelhante à
do sudário e, por isso, os principais cientistas que estudaram este achado
arqueológico inclinam-se para a hipótese de que a mesma tenha sido impressa por
“irradiação de calor”. A fé diz o mesmo, mas usando um outro nome:
ressurreição.
Santo Agostinho dizia que acreditava, para melhor
compreender, e que compreendia, para crer melhor. A fé pascal transcende a
razão, de modo análogo a como a recta razão se abre ao mistério da fé, que a
completa e realiza na plenitude da verdade..»
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Padre Gonçalo Portocarrero de Almada
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