«Todos se encontravam reunidos no mesmo lugar» (Act. 2,1) |
Da Homilia do Santo Padre, no mesmo local onde Jesus teve a Sua Última Ceia com os discípulos:
«Um grande dom nos concede o
Senhor, ao reunir-nos aqui, no Cenáculo, para celebrar a Eucaristia. Enquanto
vos saúdo com fraterna alegria, desejo dirigir um pensamento afetuoso aos
Patriarcas Orientais Católicos que participaram desses dias da minha peregrinação.
Aqui, onde Jesus comeu a Última Ceia com os Apóstolos; onde,
ressuscitado, apareceu no meio deles; onde o Espírito Santo desceu
poderosamente sobre Maria e os discípulos. Aqui
nasceu a Igreja, e nasceu em anúncio. Daqui partiu, com o Pão repartido nas
mãos, as chagas de Jesus nos olhos e o Espírito de amor no coração.
[...]
«Isto é o Meu Corpo» |
O Cenáculo recorda-nos o serviço, o lava-pés que Jesus
realizou, como exemplo para os seus discípulos. Lavar os pés uns aos outros
significa acolher-se, aceitar-se, amar-se, servir-se reciprocamente. Quer dizer
servir o pobre, o doente, o marginalizado, aquele que me é antipático, aquele
que me tira a paciência.
O Cenáculo recorda-nos, com a Eucaristia, o sacrifício. Em cada
celebração eucarística, Jesus oferece-Se por nós ao Pai, para que também nós
possamos unir-nos a Ele, oferecendo a Deus a nossa vida, o nosso trabalho, as
nossas alegrias e as nossas penas, oferecer tudo em sacrifício espiritual.
O Cenáculo recorda-nos a amizade. «Já não vos chamo servos – disse Jesus aos Doze – (…) mas a vós
chamei-vos amigos» (Jo 15, 15). O Senhor faz de nós seus amigos, confia-nos
a vontade do Pai e dá-Se-nos a Si mesmo. Esta é a experiência mais bela do
cristão e, de modo particular, do sacerdote: tornar-se amigo do Senhor Jesus,
descobrir no seu coração que Ele é amigo.
O Cenáculo recorda-nos a despedida do Mestre e a promessa de
reencontrar-se com os seus amigos: «Quando
Eu tiver ido (…), virei novamente e hei-de levar-vos para junto de Mim, a fim
de que, onde Eu estou, vós estejais também» (Jo 14, 3). Jesus não nos
deixa, nunca nos abandona, vai à nossa frente para a casa do Pai; e, para lá,
nos quer levar consigo.
Mas, o Cenáculo recorda também a mesquinhez, a curiosidade – «quem é o traidor?» – a traição. E reproduzir na vida estas
atitudes não sucede só nem sempre aos outros, mas pode suceder a cada um de
nós, quando olhamos com desdém o irmão e o julgamos; quando, com os nossos
pecados, atraiçoamos Jesus.
«Este é o Cálice do Meu Sangue» |
O Cenáculo recorda-nos a partilha, a fraternidade, a
harmonia, a paz entre nós. Quanto amor, quanto bem jorrou do Cenáculo! Quanta
caridade saiu daqui como um rio da sua fonte, que, ao princípio, é um ribeiro e
depois se alarga e torna grande… Todos os santos beberam daqui; o grande rio da
santidade da Igreja, sempre sem cessar, tem origem daqui, do Coração de Cristo,
da Eucaristia, do seu Santo Espírito.
Finalmente, o Cenáculo recorda-nos o nascimento da nova
família, a Igreja, constituída
por Jesus ressuscitado. Família esta, que tem uma Mãe, a Virgem Maria. As
famílias cristãs pertencem a esta grande família e, nela, encontram luz e força
para caminhar e se renovar no meio das fadigas e provações da vida. Para esta
grande família, estão convidados e chamados todos os filhos de Deus de cada
povo e língua, todos irmãos e filhos do único Pai que está nos Céus.
Daqui parte a Igreja em saída,
animada pelo sopro vital do Espírito. Reunida em oração com a Mãe de Jesus, ela
sempre revive a espera de uma renovada efusão do Espírito Santo: Desça o vosso Espírito, Senhor, e renove a
face da terra!»
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