Foi hoje apresentado no Vaticano o documento sobre o qual os Bispos vão trabalhar no próximo Sínodo, de 5 a 19 de Outubro deste ano. Do extenso documento, destacamos alguns pontos mais pertinentes, que nasceram dos inquéritos feitos às Conferências Episcopais do mundo inteiro.
Conhecimento dos documentos do Magistério:
O conhecimento dos documentos conciliares e
pós-conciliares do Magistério sobre a família, por parte do povo de Deus,
parece ser geralmente escasso. Sem dúvida, há um certo conhecimento deles por
parte dos especialistas em âmbito teológico.
Contudo, estes textos não parecem
permear profundamente a mentalidade dos fiéis. Há também respostas que
reconhecem com muita franqueza o facto de que tais documentos, entre os fiéis,
não são minimamente conhecidos. Nalgumas respostas, é feito notar que por vezes
os documentos são considerados, sobretudo pelos leigos, que não têm preparação
prévia, como realidades um pouco «exclusivas». Sente-se uma certa dificuldade
em pegar nestes textos e estudá-los.
A necessidade de sacerdotes e ministros preparados:
Nalgumas respostas, encontra-se também uma
certa insatisfação em relação a alguns sacerdotes que parecem indiferentes em
relação a alguns ensinamentos morais. O seu desacordo com a doutrina da Igreja
gera confusão entre o povo de Deus. Por isso, é pedido que os sacerdotes sejam
mais preparados e responsáveis ao explicar a Palavra de Deus e ao apresentar os
documentos da Igreja relativos ao matrimónio e à família.
Alguns motivos da dificuldade na recepção dos ensinamentos da Igreja:
Algumas Conferências Episcopais observam que o motivo da
resistência aos ensinamentos da Igreja sobre a moral familiar é a falta de uma
autêntica experiência cristã, de um encontro pessoal e comunitário com Cristo,
que não pode ser substituído por apresentação alguma, mesmo se correcta, de uma
doutrina. Neste contexto, lamenta-se a insuficiência de uma pastoral que se
preocupa unicamente em administrar os sacramentos.
Além disso, a maioria das
respostas frisa o crescente contraste entre os valores propostos pela Igreja
sobre matrimónio e família e a situação social e cultural diversificada em todo
o planeta: as novas
tecnologias difusivas e invasivas; a influência dos mass media; a cultura
hedonista; o relativismo; o materialismo; o individualismo; o crescente
secularismo; a prevalência de concepções que levaram a uma excessiva
liberalização dos costumes em sentido egoísta; a fragilidade das relações
interpessoais; uma cultura que rejeita escolhas definitivas, condicionada pela
precariedade, pelo provisório, típica de uma «sociedade líquida», do «usa e
deita fora», do «tudo e já»; valores apoiados pela chamada «cultura do
descarte» e do «provisório», como recorda frequentemente o Papa Francisco.
Promover um melhor conhecimento do Magistério:
A catequese sobre matrimónio e família não se deva limitar
hoje apenas à preparação do casal para o matrimónio; é necessária uma dinâmica
de acompanhamento de carácter experiencial que, através de testemunhas, mostre
a beleza de quanto nos transmitem sobre a família o Evangelho e os documentos
do Magistério da Igreja. Muito antes que se apresentem para o matrimónio, os
jovens precisam de ser ajudados a conhecer quanto ensina a Igreja e por que o
ensina.
Problemática da lei natural hoje:
A distinção dos sexos possui um fundamento natural no âmbito
da existência humana. Por conseguinte, existe uma força da tradição, da cultura
e da intuição, o desejo de manter a união entre o homem e a mulher. Portanto, a
lei natural é universalmente aceite «de facto» pelos fiéis, mesmo sem a necessidade
de ser teoricamente justificada.
Já que a não consideração do conceito de lei
natural tende a dissolver o vínculo entre amor, sexualidade e fertilidade,
entendidos como essência do matrimónio, muitos aspectos da moral sexual da
Igreja hoje não são compreendidos. Radica-se sobre isto uma certa crítica à lei
natural também da parte de alguns teólogos.
Sobre o acesso aos Sacramentos:
Frequentemente não se entende a relação intrínseca entre
matrimónio, Eucaristia e penitência; portanto, é muito difícil compreender por
que motivo a Igreja não admite à comunhão aqueles que se encontram numa
condição irregular. O sofrimento causado pela não recepção dos sacramentos está
claramente presente nos batizados que estão conscientes da própria situação.
Muitos sentem-se frustrados e marginalizados. A misericórdia de Deus não provê
a uma cobertura temporária do nosso mal, mas abre radicalmente a vida à
reconciliação, conferindo-lhe renovada confiança e serenidade, mediante uma
verdadeira renovação.
A abertura à vida e a prática sacramental:
Algumas respostas afirmam que hoje «o exame de consciência»
dos casais cristãos está concentrado na relação entre os cônjuges
(infidelidade, falta de amor), descuidando bastante os aspectos da abertura à
vida, em confirmação da debilidade com que muitas vezes se entende a relação
entre o dom de si ao outro na fidelidade e a geração da vida. As respostas põem
em evidência também que é muito diversificada a atitude pastoral dos sacerdotes
em referência a este tema: entre quantos assumem uma posição de compreensão e
de acompanhamento; e quantos, ao contrário, se mostram muito intransigentes ou
então laxistas. Confirma-se assim a necessidade de rever a formação dos
presbíteros sobre estes aspectos da pastoral.